Farol de Mosqueiro

Farol de Mosqueiro
Farol de Mosqueiro

segunda-feira, 16 de março de 2015

A experiência do “Festival das Águas”.


O dia 22 de março se aproxima e nele celebramos o dia Internacional da Água. Será que nossos governantes foram responsáveis e competentes na gestão dos recursos hídricos? Será que nós cidadãos desperdiçamos a água das nossas torneiras achando que ela era um recurso que jamais faltaria? Será que temos o que comemorar? O certo é que nunca antes, no Brasil, refletimos tanto sobre a importância da água e as possibilidades para sua obtenção.

Nos últimos meses, o jornalismo brasileiro vem noticiando a grave crise no abastecimento de água vivida pelos habitantes da região sudeste. A ocorrência de cheias nos rios da bacia amazônica, atingindo importantes cidades da região como Porto Velho/RO e Rio Branco/AC, ocuparam os noticiários. Os resultados dos trabalhos realizados por pesquisadores nacionais e internacionais também estão sendo divulgados. Entre os temas exaustivamente investigados podemos citar: as mudanças climáticas; o impacto do desmatamento no regime de chuvas; o processo de erosão nas orlas de municípios localizados em ambientes marítimos, fluviais ou estuarinos; e o comprometimento dos nossos rios, lagos e aquíferos devido à falta de saneamento básico, o uso de agrotóxicos, defensivos agrícolas, e os efluentes das indústrias.

Aproveitando o fenômeno conhecido como “Águas de Março”, tão marcante na paisagem e na vida daqueles que habitam o estuário Amazônico, a sociedade civil tomou a iniciativa de realizar um evento em Mosqueiro que ficou conhecido como o Festival das Águas. Muito antes dos problemas relacionados aos recursos hídricos virem à tona na mídia brasileira, este evento promoveu a conscientização sobre o uso racional da água, difundiu práticas sustentáveis, promoveu a produção cultural, estimulou os esportes náuticos, ao mesmo tempo em que buscou contribuir com o desenvolvimento local. Mosqueiro é um lugar vocacionado para o turismo, mas sofre os efeitos da baixa demanda neste período.

Logomarca do Festival das Águas criada por Marcelo Pinheiro.
Nela podemos ver a representação do homem no encontro
 das águas com o elemento terrestre.


Com modesta ou nenhuma contribuição dos governos, foi com imenso sacrifício pessoal que integrantes da Associação Pró Turismo, do Rotary Club e do Instituto Ampliar tornaram possível a realização do Festival das Águas. O apoio de outras organizações sociais e de instituições de ensino e pesquisa também foi determinante para a realização do evento. O Festival das Águas apresentou sua primeira versão no ano de 2004, ocorreu também nos anos de 2005 e 2006.



A programação do Festival foi concebida em três eixos. O primeiro deles correspondeu a um amplo debate sobre a importância dos recursos hídricos e foi constituído por um Seminário que chegou a reunir 300 participantes da comunidade acadêmica, científica e setores responsáveis pela gestão de políticas públicas, além de dezenas de palestras nas escolas e centros comunitários de Mosqueiro que alcançaram, nas três versões, 7.000 alunos. O segundo eixo foi composto por uma programação cultural envolvendo as mais variadas manifestações artísticas como a música, oficinas e exposições de pintura, fotografia e poesias que apresentam a água como tema; por último, as atividades de lazer incorporando esportes náuticos como regatas e porfias de canoas tradicionais a remo, gincanas ecológicas fluviais, ecoturismo explorando trilhas interpretativas e passeios fluviais.

Atividades realizadas durante o Festival das Águas.

Palestras: Abordando como tema principal A importância estratégica da Água, as palestras foram ministradas em escolas e centros comunitários de Mosqueiro por membros das organizações parceiras utilizando audiovisual padronizado elaborado por especialistas da área. A divulgação e organização das mesmas contou com ajuda fundamental das direções das escolas, corpo docente e membros dos conselhos escolares.



Seminário: sempre denominado Água, um Bem Precioso, as versões do Seminário ocorreram no Centro de Convenções do Hotel Paraíso e tiveram como público alvo a sociedade acadêmica e científica, pessoas responsáveis pela gestão de políticas públicas relacionadas direta e indiretamente com os recursos hídricos, integrantes da sociedade civil interessados no tema e a sociedade local de um modo geral.  Muitos temas foram abordados: Balneabilidade das Praias, Estratégias de proteção das Matas Ciliares e Nascentes de Rios e Igarapés, Gestão de Bacias Hidrográficas, Políticas de Abastecimento de Água, Morfodinâmica das Águas no Estuário Guajarino, Uso e Ocupação de Orlas, Água na Matriz Energética Nacional, Políticas para a Pesca Artesanal e Industrial, Transporte Fluvial, Esportes Náuticos, Água e Lazer, Turismo Fluvial e Ecoturismo, dentre muitos outros. Esses temas foram apresentados por especialistas e debatedores em mesas redondas, painéis e conferências.




Exposição de Pinturas: denominada As Cores das Águas, a exposição ocorreu no salão nobre do Hotel Farol e reuniu obras em técnicas variadas de autores renomados e de novos talentos, selecionados por curador ligado ao Museu do Estado.




Exposição de Fotografias: denominada As Luzes das Águas contou com a colaboração da Fotoativa que promoveu oficina e amostra de trabalhos de fotógrafos renomados e de novos talentos.




Feira de Artesanato: A feira de artesanato com produtos encontrados na natureza contou com a participação de artesãos e foi realizada no Centro Cultural “Praia Bar”. Depois do evento ela se tornou permanente proporcionando a formação da Associação de Artesãos do Mosqueiro.




Porfia de Canoas Tradicionais: Este torneio contou com o apoio da ACAVBEL e foi realizada com duas provas. A primeira de longa distância (resistência), tendo como ponto de partida o a Fábrica Bitar e a chegada no Trapiche da Vila. A segunda prova foi de curta distância (velocidade) em frente o Trapiche da Vila. O público alvo era, principalmente, moradores da região que possuem habilidade na condução de canoas de madeira impulsionadas a remo, tradicionais na Amazônia. Os vencedores das provas receberam como prêmio uma bicicleta e os, os três primeiros colocados em cada prova medalhas, troféus e certificados pela participação.




Gincana Ecológica Fluvial: A Gincana foi realizada no Porto Pelé e no Rio Cajueiro. O objetivo da prova era que duplas de moradores da região, munidos de suas canoas tradicionais de madeira e seus respectivos remos, retirassem em duas (2) horas de prova o lixo encontrado no rio e nas suas margens. Foram vencedoras as duplas que retirararam a maior quantidade de lixo segundo critérios da comissão julgadora do Festival. Os vencedores da prova receberão como prêmio bicicletas e os três primeiros colocados medalhas e troféus enquanto que os demais receberam certificados pela participação. Antes da prova foi ministrada uma palestra informando o que é lixo e o tempo que alguns materiais levam para se decompor. O público alvo era, principalmente, moradores da região que possuem habilidades na condução de canoas tradicionais.




Oficina de Canoagem: A oficina foi realizada na praia do Chapéu Virado e proporcionou a seus participantes (crianças, jovens e adultos) ensinamentos sobre a arte de remar e a experiência de conviver com a água e seus mistérios.




Gincana Ecológica Estudantil: A Gincana foi realizada na praia do Farolo dia 16 de abril de 2013, nas praias do Chapéu Virado e do Farol. em Mosqueiro. O objetivo da prova era que equipes formadas por   estudantes representando escolas da região retirassem, em duas horas de prova lixo como plástico, metal e vidro encontrado nas areias e no entorno da praia. Foi vencedora a equipe que retirou a maior quantidade de lixo segundo critérios da comissão julgadora do Festival. As três  primeiras equipes colocados receberam medalhas e troféus enquanto que os demais receberam certificados pela participação. Antes da prova foi ministrada uma palestra informando o que é lixo e o tempo que alguns materiais levam para se decompor. O público alvo eram estudantes das escolas de Mosqueiro.




Torneio de Pesca de Praia: O torneio foi realizado nas praias do Chapéu virado e Maraú. O público alvo eram moradores da região que tem o hábito da pesca e demais pessoas que gostam de praticá-la, faltando somente, estímulo e orientação. Moradores da região foram treinados para dar apoio aos participantes e à Comissão organizadora para a identificação dos vencedores. Foram premiados aqueles que conseguiram pescar o maior número de peixes e o maior peixe, enquanto que os demais receberam certificados pela participação.



Passeios em Trilhas Ecológicas: Estes passeios ocorreram em áreas preservadas de Mosqueiro proporcionando aos participantes a observação e interpretação da fauna e da flora da região, típicas de várzea. Os passeios foram organizados por empreendedor local de ecoturismo.




Passeio Fluvial: este passeio levou os participantes para conhecer a Ilha de São Pedro, propriedade da família Capela, abrigou um antigo engenho de cana, uma serraria e ainda abriga uma olaria.





Atualmente o Festival das Águas não tem ocorrido devido à falta de interesse do poder público e de empresas para colaborar com o mesmo, tornou-se muito difícil para a sociedade civil, através de suas organizações, realizarem sozinhas o evento. De qualquer forma a semente foi lançada e seus idealizadores continuam alimentando o sonho de tornar Mosqueiro um berço de importante no debate sobre o uso responsável da Água. Quem sabe, um dia, vamos sediar um Fórum Internacional sobre Recursos Hídricos? A esperança persiste.

(Esta publicação é dedicada à Norma Monteiro, sempre incansável na organização do Festival das Águas)

Um comentário:

  1. prof. Eduardo Brandão estão sabendo que o IV Festival das Águas vai acontecer em Ponta de Pedras.

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