O dia 22 de março se aproxima e nele celebramos o dia Internacional da Água. Será que nossos
governantes foram responsáveis e competentes na gestão dos recursos hídricos?
Será que nós cidadãos desperdiçamos a água das nossas torneiras achando que ela
era um recurso que jamais faltaria? Será que temos o que comemorar? O certo é
que nunca antes, no Brasil, refletimos tanto sobre a importância da água e as
possibilidades para sua obtenção.
Nos últimos meses, o jornalismo brasileiro vem noticiando a grave crise no
abastecimento de água vivida pelos habitantes da região sudeste. A ocorrência de
cheias nos rios da bacia amazônica, atingindo importantes cidades da região
como Porto Velho/RO e Rio Branco/AC, ocuparam os noticiários. Os resultados dos
trabalhos realizados por pesquisadores nacionais e internacionais também estão
sendo divulgados. Entre os temas exaustivamente investigados podemos citar: as
mudanças climáticas; o impacto do desmatamento no regime de chuvas; o processo
de erosão nas orlas de municípios localizados em ambientes marítimos, fluviais
ou estuarinos; e o comprometimento dos nossos rios, lagos e aquíferos devido à
falta de saneamento básico, o uso de agrotóxicos, defensivos agrícolas, e os
efluentes das indústrias.
Aproveitando o fenômeno conhecido como “Águas de Março”, tão marcante na
paisagem e na vida daqueles que habitam o estuário Amazônico, a sociedade civil
tomou a iniciativa de realizar um evento em Mosqueiro que ficou conhecido como o
Festival das Águas. Muito antes dos problemas relacionados aos recursos
hídricos virem à tona na mídia brasileira, este evento promoveu a
conscientização sobre o uso racional da água, difundiu práticas sustentáveis,
promoveu a produção cultural, estimulou os esportes náuticos, ao mesmo tempo em
que buscou contribuir com o desenvolvimento local. Mosqueiro é um lugar
vocacionado para o turismo, mas sofre os efeitos da baixa demanda neste
período.
Logomarca do Festival das Águas criada por Marcelo Pinheiro. Nela podemos ver a representação do homem no encontro das águas com o elemento terrestre. |
Com modesta ou nenhuma contribuição dos governos, foi com imenso
sacrifício pessoal que integrantes da Associação Pró Turismo, do Rotary Club e do
Instituto Ampliar tornaram possível a realização do Festival das Águas. O apoio
de outras organizações sociais e de instituições de ensino e pesquisa também
foi determinante para a realização do evento. O Festival das Águas apresentou
sua primeira versão no ano de 2004, ocorreu também nos anos de 2005 e 2006.
A programação do Festival foi concebida em três eixos. O primeiro deles
correspondeu a um amplo debate sobre a importância dos recursos hídricos e foi constituído
por um Seminário que chegou a reunir 300 participantes da comunidade acadêmica,
científica e setores responsáveis pela gestão de políticas públicas, além de dezenas
de palestras nas escolas e centros comunitários de Mosqueiro que alcançaram,
nas três versões, 7.000 alunos. O segundo eixo foi composto por uma programação
cultural envolvendo as mais variadas manifestações artísticas como a música,
oficinas e exposições de pintura, fotografia e poesias que apresentam a água
como tema; por último, as atividades de lazer incorporando esportes náuticos
como regatas e porfias de canoas tradicionais a remo, gincanas ecológicas
fluviais, ecoturismo explorando trilhas interpretativas e passeios fluviais.
Atividades realizadas
durante o Festival das Águas.
Palestras: Abordando como tema principal A
importância estratégica da Água, as
palestras foram ministradas em escolas e centros comunitários de Mosqueiro por
membros das organizações parceiras utilizando audiovisual padronizado elaborado
por especialistas da área. A divulgação e organização das mesmas contou com ajuda
fundamental das direções das escolas, corpo docente e membros dos conselhos escolares.
Seminário: sempre denominado Água, um Bem Precioso, as versões do Seminário ocorreram no Centro
de Convenções do Hotel Paraíso e tiveram como público alvo a sociedade
acadêmica e científica, pessoas responsáveis pela gestão de políticas públicas
relacionadas direta e indiretamente com os recursos hídricos, integrantes da
sociedade civil interessados no tema e a sociedade local de um modo geral. Muitos temas foram abordados: Balneabilidade das Praias, Estratégias de proteção das Matas Ciliares e
Nascentes de Rios e Igarapés, Gestão
de Bacias Hidrográficas, Políticas de
Abastecimento de Água, Morfodinâmica
das Águas no Estuário Guajarino, Uso
e Ocupação de Orlas, Água na Matriz
Energética Nacional, Políticas para a
Pesca Artesanal e Industrial, Transporte
Fluvial, Esportes Náuticos, Água e Lazer, Turismo Fluvial e Ecoturismo,
dentre muitos outros. Esses temas foram apresentados por especialistas e
debatedores em mesas redondas, painéis e conferências.
Exposição de Pinturas: denominada As Cores das Águas, a exposição ocorreu no salão nobre do Hotel Farol e reuniu obras em técnicas variadas de autores renomados e de novos
talentos, selecionados por curador ligado ao Museu do Estado.
Exposição de Fotografias: denominada As Luzes das Águas contou com a
colaboração da Fotoativa que promoveu oficina e amostra de trabalhos de
fotógrafos renomados e de novos talentos.
Feira de Artesanato: A feira de artesanato com produtos
encontrados na natureza contou com a participação de artesãos e foi realizada
no Centro Cultural “Praia Bar”. Depois do evento ela se tornou permanente
proporcionando a formação da Associação de Artesãos do Mosqueiro.
Porfia de Canoas Tradicionais: Este torneio contou
com o apoio da ACAVBEL e foi realizada com duas provas. A primeira de longa
distância (resistência), tendo como ponto de partida o a Fábrica Bitar e a
chegada no Trapiche da Vila. A segunda prova foi de curta distância
(velocidade) em frente o Trapiche da Vila. O público alvo era, principalmente,
moradores da região que possuem habilidade na condução de canoas de madeira
impulsionadas a remo, tradicionais na Amazônia. Os vencedores das provas
receberam como prêmio uma bicicleta e os, os três primeiros colocados em cada
prova medalhas, troféus e certificados pela participação.
Gincana Ecológica Fluvial: A Gincana foi
realizada no Porto Pelé e no Rio Cajueiro. O objetivo da prova era que duplas
de moradores da região, munidos de suas canoas tradicionais de madeira e seus
respectivos remos, retirassem em duas (2) horas de prova o lixo encontrado no
rio e nas suas margens. Foram vencedoras as duplas que retirararam a maior
quantidade de lixo segundo critérios da comissão julgadora do Festival. Os
vencedores da prova receberão como prêmio bicicletas e os três primeiros
colocados medalhas e troféus enquanto que os demais receberam certificados pela
participação. Antes da prova foi
ministrada uma palestra informando o que é lixo e o tempo que alguns materiais
levam para se decompor. O público alvo era, principalmente, moradores da região
que possuem habilidades na condução de canoas tradicionais.
Oficina de Canoagem: A oficina foi realizada na praia do Chapéu Virado e proporcionou a seus participantes (crianças, jovens e adultos) ensinamentos sobre a arte de remar e a experiência de conviver com a água e seus mistérios.
Gincana Ecológica Estudantil: A Gincana foi realizada
na praia do Farolo dia 16 de abril de 2013, nas praias do Chapéu Virado e do
Farol. em Mosqueiro. O objetivo da prova era que equipes formadas por estudantes representando escolas da região
retirassem, em duas horas de prova lixo como plástico, metal e vidro encontrado
nas areias e no entorno da praia. Foi vencedora a equipe que retirou a maior
quantidade de lixo segundo critérios da comissão julgadora do Festival. As três
primeiras equipes colocados receberam
medalhas e troféus enquanto que os demais receberam certificados pela
participação. Antes da prova foi
ministrada uma palestra informando o que é lixo e o tempo que alguns materiais
levam para se decompor. O público alvo eram estudantes das escolas de Mosqueiro.
Torneio de Pesca de Praia: O torneio foi realizado
nas praias do Chapéu virado e Maraú. O público alvo eram moradores da região que
tem o hábito da pesca e demais pessoas que gostam de praticá-la, faltando
somente, estímulo e orientação. Moradores da região foram treinados para dar
apoio aos participantes e à Comissão organizadora para a identificação dos
vencedores. Foram premiados aqueles que conseguiram pescar o maior número de
peixes e o maior peixe, enquanto que os demais receberam certificados pela
participação.
Passeios em Trilhas Ecológicas: Estes passeios
ocorreram em áreas preservadas de Mosqueiro proporcionando aos participantes a
observação e interpretação da fauna e da flora da região, típicas de várzea. Os
passeios foram organizados por empreendedor local de ecoturismo.
Passeio Fluvial: este passeio levou os participantes para
conhecer a Ilha de São Pedro, propriedade da família Capela, abrigou um antigo
engenho de cana, uma serraria e ainda abriga uma olaria.
Atualmente o Festival das Águas não tem
ocorrido devido à falta de interesse do poder público e de empresas para colaborar
com o mesmo, tornou-se muito difícil para a sociedade civil, através de suas organizações,
realizarem sozinhas o evento. De qualquer forma a semente foi lançada e seus
idealizadores continuam alimentando o sonho de tornar Mosqueiro um berço de
importante no debate sobre o uso responsável da Água. Quem sabe, um dia, vamos
sediar um Fórum Internacional sobre Recursos Hídricos? A esperança persiste.
(Esta publicação é dedicada à Norma Monteiro, sempre incansável na organização do Festival das Águas)
prof. Eduardo Brandão estão sabendo que o IV Festival das Águas vai acontecer em Ponta de Pedras.
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