Farol de Mosqueiro

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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Encantos e Encantamentos em uma Ilha do Rio Mar – Capítulo I



Esta obra é de autoria de Amaury Dantas e Eduardo Brandão
 com ilustrações de D'Arcy Albuquerque e Felipe Dias.


Província dos Tupinambás: do jardim do Édem ao inferno colonial

Nas areias brancas de uma bela praia, à sombra de um ajuruzeiro, próximo a um cacuri, aqueles currais feitos de paxiubinha, um índio tupinambá prepara o seu peixe. Sobre um moquém feito de pau de tucumã e envolto em folha de guarumã, o peixe fica exposto a um fumeiro feito com a lenha do maraximbé ou do murucizeiro, afinal de contas os dois queimam lentamente e são apropriados para este fim.



Depois que os brancos construíram um pequeno forte no outeiro que fica na baía dos Guajarás, na ilharga do igarapé do Piri, os índios não mais se assustam com as caravelas que navegam ao largo.

Aos olhos do estrangeiro, nem cacuris, nem currais; aquele lugar de passagem obrigatória e de paisagem ardente e selvagem, é ela, a praia dos moqueiros, a ponta da musqueira, a Ponta do Mosqueiro.

Nela há um casamento perfeito de luz e água. Sol radiante e bonitas praias de rio. A luz que vem do céu se reflete na mata, na terra, na água. Até parece que as plantas, os bichos e os homens assumem coloridos mágicos.

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            Na embocadura do igarapé do Cajueiro a Iara penteia seus longos cabelos, negros e lisos. Tem olhos amendoados e pele morena, cuja cor confunde-se com a do barranco. Prepara com requinte de uma rainha o seu banho de ervas cheirosas. Arreda uma árvore aqui, ajeita umas orquídeas ali, põe umas samambaias acolá, uns aguapés na frente e deita-se molemente em seu leito de água refrescante.


           
A Boiúna não deixa a Iara adormecer e vem chegando lentamente em seu leito. De seus olhos emanam fachos de luz como se fossem os raios da morte. Da grande boca sibilam sons apavorantes que preconizam o medo. Ao chegar, vai logo falando:

“Esses estranhos estão despejando no rio um veneno pior que o da jararaca e o da coral juntos. Construíram uma engrenagem e deram o nome de Engenho de Anil. O que não presta jogam no rio como se este  fosse um grande esgoto.”



            O Boto, sempre garboso, chega e vai logo se metendo na conversa:

“Boa Noite Yara! Boa noite dona Boiúna! O que está acontecendo? Por que tanta preocupação?



“É a Boiúna que está assustada com os últimos acontecimentos. Parece que a nossa tranquilidade acabou”, Respondeu a Iara.

A Mati-tapererê, que até então não se fazia notar, pousada sobre uma ramagem de taquara, abre sua mortalha e fala:

            “Ouvi o cacique Peroassu dizer que pretende arribar. Vai retirar o seu povo da beira no rumo da floresta. Há problemas, não aceitam os invasores e vêm encontrando dificuldades para pescar.”



O Boto que também já vinha observando algumas coisas estranhas comentou:

“De fato, alguns cardumes se afastaram da Baía do Sol! Até os meus irmãos eu não os encontro faz é tempo!”

Com o olhar fixo no horizonte, observando um belo pôr-do-Sol, a Iara pensou em voz alta:

“Então a causa de nossa inquietação é a presença dos intrusos, dos estrangeiros...”



“Não quero aumentar a pororoca que está formada, mas o Curupira anda dizendo que fostes tu, Boiúna, que permitistes a estes estranhos chegar e sentar praça. E ainda por cima que fizestes a tua Câmara Real debaixo do Forte do Castelo, do comandante mor”, provocou o Boto.



“Só se for para acabar com a tranquilidade do meu sono. Precisamos é tomar uma atitude, imediatamente. Quem eles pensam que são? Os senhores do tempo? Donos da terra?”, defendeu-se a Boiúna.

Tentando serenar os ânimos e, ao mesmo tempo, fazer algo com relação ao que estava acontecendo, a Mati sugeriu:

“Não adianta brigar. Tenho uma ideia. Vamos assustá-los. Sei que os Tupinambás e os Morobira estão aborrecidos. Eles têm motivos de sobra para não gostar da presença desses aventureiros. Acontece que, sozinhos, não poderão enfrentá-los. Mas, com a nossa ajuda...”



“Assustá-los é pouco. Precisamos aterrorizá-los! E isso eu sei fazer muito bem. Afundo todos aqueles barcos”, sentenciou a Boiúna.

“Pois eu prefiro seduzi-los. Nada como a música suave. Nada como, digamos, o charme de uma mulher maliciosa. Em pouco tempo, eu os terei em minhas mãos”, segredou a Iara.

“Taí, gostei da ideia. O importante é estarmos unidos. Cada um deve fazer a sua parte. Cada um usa as armas que possui e... mãos à obra. Pelo visto, temos muito trabalho”, disse o Boto.

Sem perder tempo, cada um deles foi para o seu canto começar a agir. Ao longe ainda se ouvia as gargalhadas da Mati:

“Ah, Ah, Ah, Ahhhhh.... Ah, Ah, Ah, Ahhhhh....!”

Então, assim ficou combinado: o Boto com a esperteza; a Boiúna o medo; a Iara a sensualidade e a Mati-tapererê o pavor .

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No dia seguinte, na aldeia de Moribira, o cacique Peroassu comentava com a Mati e outros índios da tribo:



“Estamos muito preocupados. Os estrangeiros além de levar nossas riquezas tentam nos escravizar. Trazem Caruaras, que são as doenças.”

“É bexiga da pele de lixa
É sarampo da cara pintada
Tosse de cachorro brabo
Tem cólera dos intestinos
E dor de barriga quebrada
Dizem para não andarmos nus
Falam que somos almas pecadoras.”

“Pois fique sabendo cacique, que uma prima minha, irmã do murucututu, no mastro de uma caravela, escutou uma conversa que um tal marinheiro desembarcou doente e que a praga vai se espalhar”, comentou a Mati.

“Dizem que é a peste das bexigas.
 Desmoraliza qualquer valente.
 Traz pânico aos inocentes.
 Caruara mais que danada.”

“Então é lutar ou fugir. Depois que o meu povo começou a ter contato com esses brancos, toda gente danou a padecer. Aqueles que casam com as nossas mulheres recebem até uma recompensa do chefe deles”, concluiu Peroassu.

O cacique se referia ao pagamento que era dado aos colonizadores portugueses, espécie de dote, como incentivo para aqueles que casassem com as índias. Para defender os interesses da Coroa portuguesa as missões religiosas estimulavam os casamentos como estratégia de povoação, sinônimo de dominação e poder.




E foi da mistura de sempre, dos casamentos entre colonizadores e índias e, mais tarde, também com a presença do negro africano, que surgiram os cafuzos, os mamelucos, os mulatos... Da mestiçagem de hábitos e cores, crenças e virtudes, peles e costumes, teve origem o caboclo. De caboclos em caboclos surgiu o nosso povo, de fala doce e da pele morena, herdeiro das lendas, das tradições e da história.


2 comentários:

  1. Olá, como faço para adquirir essas obras? Meu contato é 91 989346404

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  2. Lamento desapontá-la mas acho que todos os exemplares que foram colocados à venda esgotaram. Na época do lançamento foram doados dois exemplares para cada escola ter em sua biblioteca. Infelizmente, quase todos sumiram. Por essa razão disponibilizei no blog. Fique a vontade para fazer cópias.

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