Farol de Mosqueiro

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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Encantos e Encantamentos em uma Ilha do Rio Mar – Capítulo III



Esta obra é de autoria de Amaury Dantas e Eduardo Brandão
 com ilustrações de D'Arcy Albuquerque e Felipe Dias.


Praia do Bispo: a bela época

A exploração do leite da seringueira, matéria-prima da borracha, promoveu um grande desenvolvimento na cidade de Belém, foi a nossa bela época. Foram implantadas a companhia elétrica, de águas, dos correios, a da navegação e o porto. Técnicos europeus foram contratados para ajudar na modernização da cidade. Foram eles que, atraídos pelos encantos da Ilha, construíram o Belvedere, o Veryer, o Canto do Sabiá.

“Todos querem desfrutar do sossego da Ilha. Até o bispo resolveu ter uma praia só sua. Dizem que chegou a ‘perder a cabeça’ por lá. O Almirante Alexandrino não se cansa de trazer gente bonita e festeira”, comentou a Boiúna.

“Dançar é comigo mesmo. Não perco uma festa no Parazinho e no Botafogo, sem falar das serenatas do Porta Larga e do Nova Vida. Estou sempre por lá”, disse o Boto.




“É, mais antes de amanhecer ele beija as suas namoradas e vai logo se retirando. Para atalhar o caminho ele envereda pela antiga passagem do Pau Grande, a estrada do Diamante, e desce na Prainha”, retrucou a Boiúna.

Na ponta do Farol uma família recebe todos com hospitalidade, transforma sua casa em casa de hóspedes e depois em um Hotel que parece com os navios que faziam linha para a Ilha do Mosqueiro. Dizem que o dono, o Dr. Zacharias, era advogado muito conhecido em Belém.

A Matinta Pereira que sempre estava acompanhando as novidades devido aos seus voos constantes, disse:

“Tem mais! No outro lado da praia, um estrangeiro chama atenção pelo tipo diferente: pele cor-de-rosa, olhos claros, barriga e peito cabeludos e as mãos grandes alisando a barba roxa. Sabem quem é ele?”

“Claro que eu sei”, respondeu o Boto. “É o Russo, que casou com a Carolina e agora é o dono do Hotel que já foi do francês. Diferente do que todos pensam, ele não é russo, nem francês, nem alemão, nem inglês. Ele é português, ora pois, pois, da Freguesia de Couto de Cucujães.”




“Muitas pessoas estão dizendo ter visto a Boiúna próximo daquela fábrica que foi construída pelo libaneses”, comentou a Iara, mudando de assunto.

“É verdade. Gosto muito da baía de Santo Antônio; ela é bem profunda e quando estou com frio vou tomar sol nas areias da praia”, confirmou a Boiúna, que costumava remexer as areias proporcionando contornos sempre variados para o “areão”.




“E tu Iara! Como sempre muito sedutora, tens teus namorados espalhados pela Ilha”, falou o Boto, querendo dizer que não era o único namorador do pedaço. “Contam que até um alemão que andava por aqui a passeio acabou ficando e que uma bela mulher costumava visitá-lo todas as noites. Graças à grande devoção que o alemão possuía pela padroeira do Mosqueiro, acreditam que era a própria Virgem do Ó.”




Dona Boiúna, que havia passado uma época pelas bandas da baía do Sol, reforçou o comentário do Boto:

“No Paraíso também estão dizendo que nas noites de lua, uma bela mulher sai do Chalé da família Travassos para tomar banho na praia. É por este motivo que consideram aquelas águas encantadas. E quem vocês imaginam ser esta mulher tão formosa?”

“E tão bela... E tão vaidosa...” completou a Iara, assumindo a autoria dos feitos.




“É, mas a Matinta Pereira também continua com os seus passeios noturnos, sempre muito preocupada com a destruição de algumas reservas naturais. Para evitar que pessoas mal-educadas destruam árvores e matem os animais, dá voos rasantes  sobre estas e apita.” falou a Boiúna.




“Pi pi piiuuuuu....”

“Já sei que estão falando de mim!” Disse a Matinta Pereira após sentar na cerca, próxima ao Ingazeiro. “Estou dando tanto susto por aí que alguns resolveram me prometer um pouco de tabaco para deixá-los em paz. O pior é que a primeira pessoa que bate na porta do apavorado acaba levando a fama. Ô coitado!”




“É, mas também tem as más línguas. Pelo fato de andares à noite pelas ruas e sempre pitando um cigarrinho ou mastigando tabaco dizem que a grande paixão da Matinta é o guarda noturno. Por isso, quando vocês virem alguém apitando, soltando fumaça e metendo medo nos outros, vai ver que é o filho da Matinta Pereira com o guarda noturno”, concluiu o Boto.

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