Esta obra é de autoria de Amaury Dantas e Eduardo Brandão
com ilustrações de D'Arcy Albuquerque e Felipe Dias.
Praia do Bispo: a bela época
A exploração do leite da seringueira, matéria-prima da borracha, promoveu um grande desenvolvimento na cidade de Belém, foi a nossa bela época. Foram implantadas a companhia elétrica, de águas, dos correios, a da navegação e o porto. Técnicos europeus foram contratados para ajudar na modernização da cidade. Foram eles que, atraídos pelos encantos da Ilha, construíram o Belvedere, o Veryer, o Canto do Sabiá.
“Todos
querem desfrutar do sossego da Ilha. Até o bispo resolveu ter uma praia só sua.
Dizem que chegou a ‘perder a cabeça’ por lá. O Almirante Alexandrino não se
cansa de trazer gente bonita e festeira”, comentou a Boiúna.
“Dançar
é comigo mesmo. Não perco uma festa no Parazinho e no Botafogo, sem falar das
serenatas do Porta Larga e do Nova Vida. Estou sempre por lá”, disse o Boto.
“É,
mais antes de amanhecer ele beija as suas namoradas e vai logo se retirando.
Para atalhar o caminho ele envereda pela antiga passagem do Pau Grande, a
estrada do Diamante, e desce na Prainha”, retrucou a Boiúna.
Na ponta do Farol uma família recebe
todos com hospitalidade, transforma sua casa em casa de hóspedes e depois em um
Hotel que parece com os navios que faziam linha para a Ilha do Mosqueiro. Dizem
que o dono, o Dr. Zacharias, era advogado muito conhecido em Belém.
A Matinta Pereira que sempre estava
acompanhando as novidades devido aos seus voos constantes, disse:
“Tem
mais! No outro lado da praia, um estrangeiro chama atenção pelo tipo diferente:
pele cor-de-rosa, olhos claros, barriga e peito cabeludos e as mãos grandes
alisando a barba roxa. Sabem quem é ele?”
“Claro
que eu sei”, respondeu o Boto. “É o Russo, que casou com a Carolina e agora é o
dono do Hotel que já foi do francês. Diferente do que todos pensam, ele não é
russo, nem francês, nem alemão, nem inglês. Ele é português, ora pois, pois, da
Freguesia de Couto de Cucujães.”
“Muitas
pessoas estão dizendo ter visto a Boiúna próximo daquela fábrica que foi
construída pelo libaneses”, comentou a Iara, mudando de assunto.
“É
verdade. Gosto muito da baía de Santo Antônio; ela é bem profunda e quando
estou com frio vou tomar sol nas areias da praia”, confirmou a Boiúna,
que costumava remexer as areias proporcionando contornos sempre variados para o
“areão”.
“E tu
Iara! Como sempre muito sedutora, tens teus namorados espalhados pela Ilha”, falou o Boto, querendo
dizer que não era o único namorador do pedaço. “Contam que até um alemão que andava por aqui a passeio acabou ficando
e que uma bela mulher costumava visitá-lo todas as noites. Graças à grande
devoção que o alemão possuía pela padroeira do Mosqueiro, acreditam que era a
própria Virgem do Ó.”
Dona Boiúna, que havia passado uma
época pelas bandas da baía do Sol, reforçou o comentário do Boto:
“No
Paraíso também estão dizendo que nas noites de lua, uma bela mulher sai do
Chalé da família Travassos para tomar banho na praia. É por este motivo que
consideram aquelas águas encantadas. E quem vocês imaginam ser esta mulher tão
formosa?”
“É, mas
a Matinta Pereira também continua com os seus passeios noturnos, sempre muito
preocupada com a destruição de algumas reservas naturais. Para evitar que pessoas
mal-educadas destruam árvores e matem os animais, dá voos rasantes sobre estas e apita.” falou a Boiúna.
“Pi pi piiuuuuu....”
“Já sei que estão falando de mim!”
Disse a Matinta Pereira após sentar na cerca, próxima ao Ingazeiro. “Estou
dando tanto susto por aí que alguns resolveram me prometer um pouco de tabaco
para deixá-los em paz. O pior é que a primeira pessoa que bate na porta do
apavorado acaba levando a fama. Ô coitado!”
“É, mas também tem as más línguas.
Pelo fato de andares à noite pelas ruas e sempre pitando um cigarrinho ou
mastigando tabaco dizem que a grande paixão da Matinta é o guarda noturno. Por
isso, quando vocês virem alguém apitando, soltando fumaça e metendo medo nos
outros, vai ver que é o filho da Matinta Pereira com o guarda noturno”, concluiu
o Boto.
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