Farol de Mosqueiro

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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Encantos e Encantamentos em uma Ilha do Rio Mar – Capítulo IV



Esta obra é de autoria de Amaury Dantas e Eduardo Brandão
 com ilustrações de D'Arcy Albuquerque e Felipe Dias.



Igarapé do Itapiapanema: do apito do “Alexandrino” à

aurora do novo milênio

Nos primeiros anos do século XX, os encantos da Ilha do Mosqueiro estavam reservados para os caboclos que lá viviam e para um pequeno número de famílias que elegeram seus recantos para passar momentos de descanso e lazer. Com as linhas regulares de navios, até na Holanda mandaram construir um navio especialmente para esta finalidade, o movimento cresceu muito. No mês de julho as praias ficavam cheias daqueles que se denominavam veranistas.



As novidades eram muitas: primeiro foi o bonde puxado a burrinho; depois a Pata-Choca, que tinha força suficiente para puxar até quatro vagões; por último os ônibus. Ah! Não podemos esquecer das caminhonetes Ford do Raimundo Cruz e os carros dos Dantas Ribeiro e dos alemães. Eram uma belezura.

Na Vila tinha o Cinema Guajarino. Passava filmes que faziam o maior sucesso na Ilha e no mundo inteiro. Até um bloco de Carnaval surgiu para homenagear os índios Peles Vermelhas. Será que o sangue Tupinambá falou mais alto na hora da escolha entre os apaches e os soldados da cavalaria?

Na sombra de um bambuzal, um grupo de idealistas começava a pensar em maneiras para facilitar, ainda mais, o acesso das pessoas até a Ilha.
 
“Alguma coisa estranha está acontecendo pelas cercanias do furo das Marinhas!”, exclamou a Boiúna, demonstrando uma certa preocupação. Aliás, quem a conhece sabe que ela é mesmo assim  sempre atenta.



“O que poderia ser de tão grave?”, perguntou a Matinta Pereira.

“Não sei ainda. Mas tem havido muito movimento próximo às ilhas do Maruim, de São Pedro, do Canuari, aquelas que ficam antes de chegarmos à baía do Sol”, disse a Boiúna.



“Acho melhor chamarmos a Iara e o Boto para perguntar se eles sabem de alguma coisa”, sugeriu a Matinta.

Dois dias depois os quatro se encontraram no igarapé Itapeuapanema. Por ser um lugar de poucas águas, eles puderam conversar sem ser interrompidos pelos ruídos dos navios que atracavam no trapiche  da Vila e pelos olhares curiosos de seus passageiros.



Não aguentando a ansiedade, a Boiúna foi logo tomando a palavra e perguntando:

“Afinal, alguém pode me explicar o que está acontecendo?

“Na festa da noite passada, falaram na aparelhagem Primavera que estão construindo uma estrada. E que agora as pessoas virão para Ilha de carro”. disse o Boto.

“E por onde passará essa tal estrada?” voltou a perguntar a Boiúna.

“Ouvi na ‘boca de ferro’ do mercado e o treme terra Tupinambá confirmou que a estrada vem de Benevides passando por Santa Bárbara e é por demais bonita, sim senhor! E tem mais. Do furo das Marinhas, segue em linha reta até a praia do Carananduba, para depois seguir pela Beira-Mar”, afirmou o Boto, demonstrando estar muito interessado na novidade.



“Beira Mar não, Beira Rio!”, retrucou a Matinta Pereira.

“Tanto faz, eles nunca tinham visto um rio tão grande que pensam que é mar. Já vi muito boboca provando da água para ver se não é mesmo salgada”, falou a Iara.



“Pois eu não gostei nada do que acabei de ouvir. Conheço muito bem aquela região e sei que esta estrada vai passar muito próximo às nascentes de alguns rios”, disse a Matinta, afinal costuma sobrevoar aquela região para encontrar com outras “Matintas” da família.

“A Matinta tem razão”, disse o Boto. “Tenho visto muita sujeira ultimamente: é palito de picolé, latinha de cerveja, garrafinha de água mineral, saco plástico... Isso tem que parar. Vocês não acham?!”



“Não estou vendo muito problema em aumentar o movimento na Ilha; certamente que virão para cá muitos rapazes bonitos”, falou a Iara demonstrando segundas intensões.

“As festas no Matapi também ficarão muito mais animadas e poderei conhecer muitas moças formosas”. completou o Boto apoiando a Iara.

“Pois presta bem atenção Boto”, disse a Matinta. “Soube que vão construir uma ponte e a rede de abastecimento de energia elétrica vai garantir luz a noite toda.”

“Quem não gostou desta arrumação, agora fui eu”, reclamou o Boto. “Se não voltar cedo para água, acabo virando ‘peixe’ no meio do salão.”

Para variar a Boiúna não conversou e foi logo dizendo:

“Se construírem a ponte, eu derrubo!”

“Esperem aí”, interrompeu a Iara. “Não podemos radicalizar. A estrada e a ponte vão permitir que muita gente boa, que não podem conhecer as belezuras de nossa Ilha, venham até ela.”



“A Iara tem razão. O que devemos fazer é tentar influenciar estas pessoas para a necessidade de preservar a natureza de modo que seus filhos e netos também venham a usufruir de seus encantos”, argumentou a Matinta Pereira.



“Eu também concordo”, disse o Boto. “Agora, que precisamos aumentar a vigilância, não há a menor dúvida.”

“Duvideodó! Mas se a maioria concorda, democraticamente eu aceito a decisão”, manifestou-se a Boiúna.

Aurora do Século XXI

E juntos disseram:

Estamos aqui reunidos
E já rolou muita falação
Se as coisas não foram assim
É porque sobrou inspiração
Mosqueiro é esta Ilha pai d’égua
E aqui se encerra a apresentação
Quem gostou muito que bata palmas
Quem gostou tanto, com poesia
Que nos leve no coração.


FIM...



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