Farol de Mosqueiro

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A “Bucólica” Mosqueiro.


Durante muito tempo, o cotidiano dos moradores de Mosqueiro e daqueles que buscavam a tranquilidade do local era estabelecido pela mãe Natureza. Como ela é cheia de surpresas, podemos dizer que a vida na Ilha não caia na rotina. As manhãs de Sol, as noites estreladas, a Lua resplandecendo sobre as águas da baía, a madrugada orvalhada, os dias chuvosos que sugerem o balançar das redes, o arco-íris deslumbrante, o vai e vem das marés acompanhado pelo “marulhar” das ondas, as árvores cheias de frutas nos quintais, o vento produzindo o “farfalhar” das folhas, os pássaros com suas cores e sons, tudo isso fascinava. Essas características levaram o advogado e jornalista, Pierre Beltrand, a batizar nossa querida Mosqueiro de “A Bucólica”.



As praias da Ilha sempre despertaram admiração e fascínio naqueles que costumavam frequentá-las. Em momentos de preamar, principalmente quando os ventos estavam fortes, as águas doces ficavam bravas e formavam ondas típicas de praias oceânicas, na maioria delas era quase impossível avistar a outra margem. O fascínio e o espanto eram tanto que algumas pessoas chegavam a provar a água para se certificarem da ausência do sal - não acreditavam que se tratava de praia de rio. Espalhados sobre as areias brancas era possível encontrar muitos ajuruzeiros, seus frutos escuros faziam a festa da garotada que neles subiam já sabendo, se caíssem, a areia fofa amortecia. No período de maior intensidade de chuva, as marés de março e também de abril depositavam sobre a praia diversas sementes, muitas delas utilizadas pelos sábios caboclos como medicamentos - Andiroba, Copaíba...



Os quintais dos Casarões distribuídos na orla, das residências dos ilhéus, assim como, os terrenos dos sítios lá existentes, costumavam ser um pequeno mosaico do que a generosa natureza amazônica oferece. Sempre muito sombreados, podíamos encontrar as mais variadas espécies de árvores frutíferas: Muricizeiro, Beribazeiro, Cupuaçuzeiro, Bacurizeiro, Ingazeiro, Tamarineiro, Jambeiro, Jaqueira, Sapotilheira, Gravioleira, Goiabeira, Açaizeiro, Pé de Abíu e muitos outros. Plantas utilizadas na culinária local, como a chicória e a alfavaca, também eram vistas em grande quantidade, o mesmo acontecendo com aquelas que possuem propriedades medicinais.



Sabemos que a chegada de infraestrutura urbana, tais como iluminação pública e pavimentação de ruas, o uso de aparelhos sonoros potentes, e, principalmente, o burburinho dos dias agitados de férias e finais de semana prolongados, levarão muitos leitores desse Blog a dizer que são tempos que não voltam mais e que a Bucólica ficou esquecida na poeira do passado.



Preciso dizer que a realidade não é bem assim. Depois de cinco anos morando por aqui, eu e minha esposa sabemos que os encantos da natureza continuam presentes e sempre reservando surpresas. Certa vez o tio dela sugeriu que apagássemos as luzes do nosso quintal e para surpresa de todos, acreditem, ficamos horas puxando uma boa prosa com as estrelas e Lua radiante sobre nós. Para os mais novos que estavam presentes tudo aquilo era uma grande novidade. Quando saio à noite com o Bóris e a Brida, nossos cachorros, a trilha sonora ainda é o farfalhar das árvores, o marulhar das ondas e o canto.dos grilos e dos sapos. Diariamente, nas árvores do nosso quintal, apreciamos a festa proporcionada por algumas dezenas de aves. São mais de 20 espécies. Algumas desses pássaros nos deram o privilégio de fazer os seus ninhos e reproduzirem por lá. Até mesmo a “invasão” noturna do quintal, por uma mucura ou por uma iguana, da piscina por uma cobra, ou pela visita de uma doce preguiça, transformam-se em fato pitoresco a ser contado e comentado pelos amigos.




O grande desafio daqueles que pretendem reencontrar ou conhecer a “Bucólica” é permitir que a sua sensibilidade se manifeste favorecendo a revelação das belezas existentes ao seu redor. Não tente trazer o “prazer” em uma sacola, em uma mochila ou no porta-malas, venha de coração e mente aberta para usufruir o que a Ilha tem para lhe oferecer de melhor. Podem acreditar, isso é qualidade de vida, isso são prazeres que as grandes fortunas não costumam comprar. Mosqueiro foi e continua sendo a nossa Bucólica. 

4 comentários:

  1. Amo mosqueiro um lugar que eu né adaptei e hj e minha segunda casa 😍❤️👍

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  2. Parabéns pelo texto 👏🏼👏🏼. Passei minha juventude nessa querida bucólica. Lindas lembranças.

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  3. Que lindo texto, grande trabalho e muita competência nos fatos. Quase me emociono lendo, pq lembrei de momentos da minha infância aonde eu vivi muitas coisas que não voltam mais. Noites de conversas no quintal iluminado pela luz da lua, sorrisos e histórias contadas, brincadeiras na chuva durante o dia, aos verão subiamos em árvores e brincávamos de ser feliz, pq realmente éramos agraciados a viver e desfrutar das emoções, eternizando assim nas memórias as doces lembranças.

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