Durante muito tempo, o cotidiano dos moradores
de Mosqueiro e daqueles que buscavam a tranquilidade do local era estabelecido
pela mãe Natureza. Como ela é cheia de surpresas, podemos dizer que a vida na
Ilha não caia na rotina. As manhãs de Sol, as noites estreladas, a Lua resplandecendo
sobre as águas da baía, a madrugada orvalhada, os dias chuvosos que sugerem o
balançar das redes, o arco-íris deslumbrante, o vai e vem das marés acompanhado
pelo “marulhar” das ondas, as árvores cheias de frutas nos quintais, o vento
produzindo o “farfalhar” das folhas, os pássaros com suas cores e sons, tudo
isso fascinava. Essas características levaram o advogado e jornalista, Pierre
Beltrand, a batizar nossa querida Mosqueiro de “A Bucólica”.
As praias da Ilha sempre despertaram
admiração e fascínio naqueles que costumavam frequentá-las. Em momentos de
preamar, principalmente quando os ventos estavam fortes, as águas doces ficavam
bravas e formavam ondas típicas de praias oceânicas, na maioria delas era quase
impossível avistar a outra margem. O fascínio e o espanto eram tanto que
algumas pessoas chegavam a provar a água para se certificarem da ausência do
sal - não acreditavam que se tratava de praia de rio. Espalhados sobre as areias
brancas era possível encontrar muitos ajuruzeiros, seus frutos escuros faziam a
festa da garotada que neles subiam já sabendo, se caíssem, a areia fofa
amortecia. No período de maior
intensidade de chuva, as marés de março e também de abril depositavam sobre a
praia diversas sementes, muitas delas utilizadas pelos sábios caboclos como
medicamentos - Andiroba, Copaíba...
Os quintais dos Casarões distribuídos
na orla, das residências dos ilhéus, assim como, os terrenos dos sítios lá
existentes, costumavam ser um pequeno mosaico do que a generosa natureza
amazônica oferece. Sempre muito sombreados, podíamos encontrar as mais variadas
espécies de árvores frutíferas: Muricizeiro, Beribazeiro, Cupuaçuzeiro, Bacurizeiro,
Ingazeiro, Tamarineiro, Jambeiro, Jaqueira, Sapotilheira, Gravioleira,
Goiabeira, Açaizeiro, Pé de Abíu e muitos outros. Plantas utilizadas na
culinária local, como a chicória e a alfavaca, também eram vistas em grande
quantidade, o mesmo acontecendo com aquelas que possuem propriedades medicinais.
Sabemos que a chegada de infraestrutura
urbana, tais como iluminação pública e pavimentação de ruas, o uso de aparelhos
sonoros potentes, e, principalmente, o burburinho dos dias agitados de férias e
finais de semana prolongados, levarão muitos leitores desse Blog a dizer que
são tempos que não voltam mais e que a Bucólica ficou esquecida na poeira do
passado.
Preciso dizer que a realidade não é
bem assim. Depois de cinco anos morando por aqui, eu e minha esposa sabemos que
os encantos da natureza continuam presentes e sempre reservando surpresas.
Certa vez o tio dela sugeriu que apagássemos as luzes do nosso quintal e para
surpresa de todos, acreditem, ficamos horas puxando uma boa prosa com as
estrelas e Lua radiante sobre nós. Para os mais novos que estavam presentes
tudo aquilo era uma grande novidade. Quando saio à noite com o Bóris e a Brida,
nossos cachorros, a trilha sonora ainda é o farfalhar das árvores, o marulhar
das ondas e o canto.dos grilos e dos sapos. Diariamente, nas árvores do nosso
quintal, apreciamos a festa proporcionada por algumas dezenas de aves. São mais
de 20 espécies. Algumas desses pássaros nos deram o privilégio de fazer os seus
ninhos e reproduzirem por lá. Até mesmo a “invasão” noturna do quintal, por uma
mucura ou por uma iguana, da piscina por uma cobra, ou pela visita de uma doce
preguiça, transformam-se em fato pitoresco a ser contado e comentado pelos amigos.
O grande desafio daqueles que
pretendem reencontrar ou conhecer a “Bucólica” é permitir que a sua
sensibilidade se manifeste favorecendo a revelação das belezas existentes ao
seu redor. Não tente trazer o “prazer” em uma sacola, em uma mochila ou no
porta-malas, venha de coração e mente aberta para usufruir o que a Ilha tem para
lhe oferecer de melhor. Podem acreditar, isso é qualidade de vida, isso são
prazeres que as grandes fortunas não costumam comprar. Mosqueiro foi e continua
sendo a nossa Bucólica.
Amei o texto! Amo moscosqueiro!
ResponderExcluirAmo mosqueiro um lugar que eu né adaptei e hj e minha segunda casa 😍❤️👍
ResponderExcluirParabéns pelo texto 👏🏼👏🏼. Passei minha juventude nessa querida bucólica. Lindas lembranças.
ResponderExcluirQue lindo texto, grande trabalho e muita competência nos fatos. Quase me emociono lendo, pq lembrei de momentos da minha infância aonde eu vivi muitas coisas que não voltam mais. Noites de conversas no quintal iluminado pela luz da lua, sorrisos e histórias contadas, brincadeiras na chuva durante o dia, aos verão subiamos em árvores e brincávamos de ser feliz, pq realmente éramos agraciados a viver e desfrutar das emoções, eternizando assim nas memórias as doces lembranças.
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