Arcebispo
do Pará de 1932 a 1941, Dom Antônio de Almeida Lustosa, chegou a Belém a 15 de
dezembro daquele ano, após ter ocupado o sólio episcopal de Uberaba, em Minas Gerais,
e de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Durante os nove anos da sua jurisdição
percorreu, sem medir sacrifícios, sedes paroquiais, vilas e povoações, sempre
observando coisas, pessoas, fatos e curiosidades por onde andava. O texto que o
leitor do Blog Mosqueiro Pará Brasil
verá abaixo é o relato feito por Dom Lustosa a respeito de visita feita ao
Sítio Conceição onde há uma capelinha dedicada à Virgem de mesmo nome.
Vamos
para Conceição. Não fomos felizes na escolha da hora da partida. A lancha que
nos transportava, em fortes guinadas ia vencendo os vagalhões, mas os
passageiros não se sentiam muito a vontade. Felizmente o vento não havia; os banzeiros
eram simplesmente em razão da maré que nessa costa é sempre um tanto empolada,
principalmente por ocasião da lua nova ou da lua cheia e estava em plenilúnio. A
Ilha das Gauribas nos mimoseou com
seus costumados maroiços. Todo viajante dessas paragens conhece as Guaribas. São tristemente célebres pelos
naufrágios que se têm dado ali.
(Ilha das Guaribas)
Todos
sabem guaribas são macacos de certa espécie. Não é provável, porém, que
houvesse macacos, nessa ilhota tão pequena. O nome, ao que parece, provém de duas
rochas que ali se erguem e quase iguais, parecendo dois grandes macacos
guaribas.
Pode
ter concorrido para a designação da ilha o marulhar das ondas que por vezes se
torna ali muito soturno. Um bando numeroso de guaribas quando se põe a roncar,
de longe se lhes ouve o rumor, surdo, cavernoso. Os caboclos quando passam sem
ouvir aí o marulhar das ondas dizem: “As guaribas estão dormindo”.
A
agitação das águas melhorou um pouco quando nos aproximamos da praia do Caruara.
Passamos
nas duas pequenas ilhas do Maracujá e das Pombas.
A
do “Maracujá” toda coberta de vegetação e próxima da praia é pouco conhecida.
Pelas árvores estende seus festões a conhecida passiflora que lhe deu o nome.
(Ilha do Maracujá)
A
“das Pombas”, todos os que viajam pela Baía do Sol a conhecem pois lhe evitam
as proximidades quando saem da baía ruma a Belém. Nessa ilha, árida em parte,
há alguma vegetação; especialmente cresce ali o ajuru, fruto muito apreciado dos pombos. Naturalmente, por isso, a
ilha se tornou frequentada das poéticas colombinas, vulgarmente chamadas torcazes
ou pombas galegas.
(Ilha das Pombas)
Não
longe da ilhota de “Maracujá”, acha-se o escolho denominado Acostumado. O costume a que o nome faz referência é o de despedaçar embarcações.
É uma grande pedra que apenas aflora à tona quando baixam as águas. Em geral as
embarcações não se partem quando a abalroam, cavalgam a pedra e as águas a cada
instante as levantam e as deixam cair sobre ela. Esses golpes repetidos
desconjuntam os barcos que não podem sair e ficam condenados a servir de “malho”
para a terrível bigorna do Acostumado.
Deixamos
atrás o Paraíso bem perto do igarapé “Sucurijuquara”. A ideia de paraíso e serpente se associa facilmente. Esse Paraíso teve mais ou menos, a mesma sorte do Eden. Era outrora florescente, teve sua bem cuidada capela: hoje
não é bem o Paraíso Perdido de
Milton, mas tampouco é o ameníssimo Jardim
que nossos primeiros pais gozaram, nem mesmo o que os antigos proprietários
conheceram.
(Foz do Igarapé Sucurijuquara)
Chegamos
ao Sítio Conceição onde há uma capelinha dedicada à Virgem Imaculada. Bela
situação da vivenda junto à qual se abre o pequenino Santuário da Virgem. Que
belas ondas se vêm quebrar naquela praia de areia e penhascos.
(Casa Grande do Sítio Conceição)
Na
frente da casa, coqueiros sinuosos e inclinados erguem suas copas seus cachos.
Original é a inclinação desses coqueiros com relação às outras árvores. Por via
de regra a árvore se inclina na direção para qual sopram com mais constâncias
os ventos. É natural: vergadas quase sempre para esse lado, acabam inclinando-se
nesse sentido. O coqueiro, porém, não segue essa lei; parece um revoltado
contra a mecânica: ele se inclina contra o vento. É naturalmente a reação
contra a força que sofre constantemente. Junto de outra árvore inclinada da
costa, portanto, o coqueiro não será paralelo a ela, mas divergente dela ou
convergente com ela conforme ele estiver à direita ou à esquerda dessa árvore.
(Os coqueiros da Conceição)
(Enseada da Conceição e seus coqueiros)
(Texto reeditado do Livro No Estuário Amazônico - Á margem da visita pastoral)
Que maravilhoso relato desta ilha que por anos me encantou e proporcionou belas lembranças na infância e adolescência
ResponderExcluir