(Pintura do Chalé Porto Arthur)
De acordo com a Constituição Federal, o patrimônio cultural do Brasil é a
história, o artesanato, a culinária, as manifestações populares e também as
edificações. O patrimônio edificado de um lugar tem importância por ser um
lugar de memória. Ele foi palco de relações sociais que decorreram no passado e
construíram o que somos hoje.
Temos que criar uma visão de que a cultura é produzida na história. Se
isso ocorrer, a valorização desse patrimônio vai acontecer também. Por outro
lado o turismo despertou para a valorização desses pequenos sítios históricos.
A inclusão desses monumentos nos roteiros turísticos é essencial, mas, para que
ela aconteça, eles precisam estar recuperados e preservados. O turismo se
desenvolve com a troca de culturas e valores culturais.
Muito já foi escrito a respeito de um dos
principais símbolos do Mosqueiro que são os seus casarões, comumente
denominados de chalés e localizados em sua orla. Reconhecendo a importância
simbólica deste patrimônio, a Prefeitura Municipal de Belém construiu, na
estrada, um pórtico que reproduz vários elementos tradicionais destas
construções.
Um aspecto recorrente, quando o assunto é
tratado, diz respeito à competência com que seus construtores associaram os
estilos arquitetônicos de influência europeia às condições climáticas da região. A
presença do porão, protegendo da umidade, e das varandas, evitando a insolação
direta em seus cômodos, são exemplos da preocupação com o microclima no
interior destas propriedades. Uma característica marcante eram os quintais e
jardins, sempre ricos em espécies frutíferas e ornamentais.
Outro aspecto, também abordado, é a origem
destes casarões que sempre esteve relacionada ao período áureo da economia da
borracha. Neste período, europeus envolvidos com a instalação de algumas
companhias como a Amazon River, a Pará Eletric, a Port of Pará, dentre outras, foram os responsáveis pela reprodução,
em nossa região, de uma prática já difundida na Europa que era a existência de
uma segunda residência destinada a momentos de lazer e contato maior com a
natureza para as suas famílias. Posteriormente, foram imitados pela elite
local.
Estudos recentes apontam para a necessidade
de revisão de alguns desses aspectos. Viajantes do século XVIII e início do
século XIX relataram a presença de propriedades rurais no Pará, conhecidas como
Rocinhas, Sítios, Chácaras, dentre outros. Estas serviam de residência para famílias abastadas e já
apresentavam a preocupação de seus construtores em oferecer aos seus ocupantes
conforto e adequação ao clima. Na cidade, só permaneciam os negociantes,
funcionários públicos e o clero além dos boticários, artífices, etc. Com o
episódio da Cabanagem, muitas dessas famílias foram atacadas, obrigando-as a
mudar para o centro urbano em busca de maior segurança. A partir daí, o fluxo
se inverte e essas famílias passam a frequentar as propriedades rurais em
momentos de descanso e lazer. Neste sentido, do turismo de segunda residência
inicia, no estado do Pará, ainda na primeira metade do século XIX.
No Mosqueiro, também existiam essas
propriedades conforme registrou o marechal Manuel Jorge Rodrigues ao se
refugiar na ilha de Tatuoca após a tomada do poder pelo líder cabano Eduardo
Angelin: “... meia légua apenas decorre
desta ilha a do Mosqueiro, onde se distingue a povoação deste mesmo nome com
seus sítios e casas de campo, à beira-mar ou nas ribanceiras da costa , por
entre palmares e arvoredos...”. O professor La Rocque Soares, ao tratar das
propriedades rurais do Pará, no século XIX, faz referência a dois sítios que
foram construídos, em Mosqueiro, na região da baía do Sol, por herdeiros do
Padre Antônio Nunes da Silva que havia recebido vasta área de terra através de
uma Carta de Data e Sesmarias.
Com base nas evidências descritas acima,
pode-se dizer que a construção de confortáveis propriedades rurais, pela elite
paraense, bem como o seu uso como segunda residência antecedem o período
marcado pela economia da borracha. Isto não significa que este período não
tenha sido determinante para a proliferação desta prática e construção de novas
propriedades. Acredita-se, também, que o embelezamento dos Casarões de
Mosqueiro decorre deste período, fato verificado em toda região, inclusive no
centro urbano de Belém.
A preservação e recuperação dos casarões existentes na orla de Mosqueiro
mostram-se imperiosas considerando o estado precário de muitos e a demolição sistemática
que temos presenciado ao longo das últimas décadas. A sua perda têm consequências
desastrosas para a história, para a sociedade local, para as artes e para o turismo. Esse patrimônio incorpora toda uma simbologia, a valorização desse
patrimônio edificado é responsabilidade de todos e estratégico para o
desenvolvimento de Mosqueiro.
A proposta de
criação de uma Política de Proteção do Patrimônio Arquitetônico da Orla de
Mosqueiro trata-se da implementação de um conjunto de dispositivos e ações cujo
objetivo é valorizar este bem valioso e singular. Entre esses dispositivos e
ações destaca-se: a criação da “Casa da Memória”, objeto de postagem específica
no Blog; realização de campanha educativa apontando o valor desse conjunto de
imóveis; estudo e orientação para novos usos; incentivo fiscal para os
proprietários comprometidos com a preservação; e o tombamento pelo Patrimônio
dos exemplares mais representativos ou do conjunto existente na orla.
Inconformados e cansados de esperar que
alguma coisa mude no cenário local, empresários, trabalhadores, moradores e
visitantes, todos comprometidos e encantados por Mosqueiro criaram a Associação
Pró-Turismo. Partindo de um planejamento que tem como objetivo maior o
desenvolvimento sustentável de Mosqueiro formularam várias propostas consideradas
estratégicas, essa é uma delas.
Olá, estou usando seu artigo como referência para exposição de trabalhos de maquetes, na mostra de saberes e cultura da secretaria municipal de educação. Gostaria de conversar sobre as referências que usou em seu artigo, que está muito bem feito e instrutivo. Obrigado.
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