Para aqueles que frequentam
Mosqueiro há muito tempo, especialmente os que utilizaram os navios “Presidente
Vargas” e “Almirante Alexandrino” para chegar até a Ilha, eu tenho certeza que
está presente em suas memórias uma Varinha que era vendida como souvenir. Tratava-se de uma pequena vara
de madeira na qual os artesãos executavam um trabalho de grafismo na sua casca,
deixando sempre o espaço para a gravação do nome de quem desejaríamos ofertá-la.
Alguns costumavam atribuir
poderes mágicos para esta Varinha. Se por acaso um rapaz estava interessado em conquistar
uma moça ou uma moça interessada em conquistar um rapaz, bastava gravar o nome
da pessoa e aproveitar um momento de descuido e encostá-la sutilmente a Varinha
na pessoa. Pronto, o resultado era o encantamento imediato e um novo casal
estava formado.
Pesquisa realizada pela aluna
Idanise Hamoy para a elaboração do Trabalho de Conclusão do Curso de
Licenciatura em Educação Artística do Instituto de Ciências da Arte da
Universidade Federal do Pará, classifica a confecção das Varinhas como
decorrente da tradição que “...alimenta o
complexo sistema da cultura e se retroalimenta deste mesmo sistema, conhecendo,
resgatando e valorizando a experiência cotidiana do fazer humano, criando meios
para a compreensão da visualidade através do despertar do olhar investigativo e
sensível sobre a cultura atual e de outros tempos”.
Os indivíduos que mantém a
tradição da confecção da Varinha utilizam sua habilidade e fazem cortes na
varinha ainda verde ora no sentido vertical e horizontal, onde o cruzamento das linhas dá origem a planos geométricos que são delicadamente retirados de maneira alternada formando um contraste de claro, representado pelo miolo da vareta, e escuro, representado pela casca da árvore. Este
procedimento costuma ser denominado pelos artesãos como “bordado”.
(Foto de Idanise Hamoy)
A vara costuma ser retirada de um
arbusto chamado de Taquari (Mabea Taquari
Aubl.) da família das euphorbiaceae, encontrada na região. Por ocasião da coleta,
se escolhe a vara de acordo com o trabalho a ser desenvolvido, sem necessidade
do corte total da árvore, que continua seu ciclo de crescimento mantendo a
ramificação de 6 varas em média em cada nó. Dependendo da idade do arbusto,
existem diâmetros diferentes para estas ramificações, oferecendo assim novas
possibilidades de produto final.
Galhos de Taquary com 5 ramos (Foto de Idanise Hamoy)
Em Mosqueiro, na comunidade rural
do Caruaru, a família da Dona Dica que tive oportunidade de conhecê-la e tê-la
como amiga, mantém a tradição. Alguns artesãos também utilizam o grafismo e a
técnica em alguns dos seus produtos como é o caso da Dona Sandra que produz
cuias com este “bordado”.
Poderes a parte, eu tenho certeza
que o grafismo produzido nas Varinhas da Conquista é uma das manifestações
artísticas mais significativas e singulares que podemos encontrar nesta região
do estuário amazônico. Em uma época em que as marcas registradas ganham grande
valor para o mercado, este autor registra sua opinião sobre a marca deixada pelas
Varinhas. Se resolvermos eleger um símbolo para Mosqueiro, o grafismo das
Varinhas constitui-se em candidato muito forte. Ele poderia estar presentes em
monumentos e placas de sinalização, estampado em diversos produtos do
artesanato local, em camisetas, sandálias, canecas e muitos outros. Ao invés de
um governo tentar impor a sua marca, deveria reconhecer e valorizar a marca que
brota naturalmente da cultura local.
Boa proposta para placas com o nome das ruas. Acrescentaria, tambem nessas placas, quem era a pessoa q da nome a rua ou o que aconteceu naquela data...
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