A última década do século XIX e a primeira do século XX
reservavam grandes surpresas e transformações para Mosqueiro. Nesta época, a exploração do látex foi
responsável pelo surto de desenvolvimento verificado nas principais cidades da
Amazônia. No Pará, ingleses, alemães, franceses e americanos chegaram para
instalar companhias que atenderiam às demandas de transporte, saneamento
básico, comunicação e energia que a modernização exigia. Podemos dizer que as
principais foram a Western, Pará Eletric Railways Company, a Port of Pará, a Amazon River, a Companhia das Águas e a Companhia dos Bondes.
Neste período, Mosqueiro tornou-se o local predileto de
muitos desses estrangeiros, foram os Ponted, os Smith, os Upton, os Kaulfuss,
os Arouch, os Lochard, e muitos outros, todos ansiosos em construir uma
residência para passarem os fins de semana (week-end)
com seus familiares e usufruírem dos belos e aprazíveis recantos existentes no
arquipélago. Não demorou muito para serem seguidos por famílias abastadas de
Belém que aderiram ao movimento, portugueses, libaneses e hebraicos também
marcaram presença. Foi neste período que o turismo de segunda residência
começou a se desenvolver, transformar as relações de trabalho e promover
grandes alterações no espaço. Antigos pescadores, agricultores e artesãos
passaram a atender as necessidades dos veranistas na condição caseiros,
jardineiros, e outras atividades domésticas. Outros montaram pequenos comércios
ou foram trabalhar nos espaços do Mercado Municipal. Os terrenos na orla
praiana foram valorizando e ocupados gradativamente, deslocando antigos
moradores para áreas mais afastadas.
Os Casarões construídos em sua orla, durante esse
período, representam raros exemplares arquitetônicos pelo fato de seus
construtores terem associado, com muita competência, estilos europeus com a
realidade climática da região – pé direito alto para favorecer a ventilação,
porão para evitar a humidade e as varandas que protegem seus interiores da
insolação. Alguns proprietários dessas residências na orla davam-se ao luxo de
construir trapiches particulares – porto - para atracação de barcos que eram
responsáveis pelo transporte de víveres e materiais de construção. Desta
atividade surge a denominação dos Chalés “Porto Arthur” e “Porto Franco”.
Os novos barcos da empresa inglesa Amazon River já permitiam o transporte da capital ao balneário
quando o governo estadual tratou de construir uma ponte metálica para atracação
dessas embarcações, a obra, foi inaugurada em 6 de setembro de 1908. Também edificou
um armazém especial onde eram guardadas encomendas e bagagens. Alguns ilhéus trabalhavam como carregadores e eram
costumeiramente identificados pelos números que traziam costurados na roupa,
transformaram-se em figuras famosas e populares. Eram responsáveis, além de
carregar as bagagens dos passageiros, pelo envio de encomendas. A chegada dos
navios passou a ser uma atração para os moradores e produziu uma curiosidade
desta época – o corredor polonês. Nele as pessoas se encarregavam de vaiar ou
aplaudir quem chegava, podemos imaginar as roupas utilizadas por quem chegava e
o quanto elas destoavam com o clima equatorial e sol escaldante da região.
O número de viagens para Mosqueiro cresceu rapidamente,
no início eram duas por mês, depois, três por semana e finalmente todos os
dias. Aos sábados e domingos havia viagens extras. O primeiro navio a se
destacar na linha foi o vapor Almirante Alexandrino. Mais tarde, este serviço
foi efetuado por embarcações do Serviço de Navegação da Amazônia e
Administração do Porto do Pará – SNAPP, empresa que substituiu a antiga Port of Pará. Em virtude do pequeno
calado que possuíam eram conhecidas como Chatas e as principais foram a
Distrito Federal, a Cuiabá, a Fortaleza e a Vitória. Nos idos dos anos cinquenta,
o governo encomenda navios modernos e adaptados ao fim que se destinavam
conhecidos como a Frota Branca. O navio Presidente Vargas foi um destes navios,
construído em estaleiro holandês com a finalidade de fazer a linha regular até
Mosqueiro, era substituído, eventualmente, pelo navio Lobo D’Almada Os
construtores do Presidente Vargas receberam detalhes de corrente e profundidade
das águas a serem navegadas, assim como o perfil socioeconômico dos usuários.
O primeiro transporte oficial aproximando a Vila do
Mosqueiro da praia do Chapéu Virado foi inaugurado em 10 de janeiro de 1904, foi
o Ferril-Carril, um Bonde com tração animal. Propriedade de Arthur Pires Teixeira
fazia o trajeto que se iniciava na Praça da Vila, onde a garagem dos mesmos era
o prédio que hoje abriga o Mercado Municipal, percorria a estrada do Chapéu
Virado, estendendo-se até a praia do Porto Arthur, na qual seu dono possuía
propriedade. Com o aumento de passageiros, provocado pela instalação da linha
fluvial regular, os animais que tracionavam o Ferril-Carril foram substituídos
por uma pequena locomotiva, conhecida como “Pata Choca”.
O primeiro ônibus começou a circular em 1926 e ligava a
Vila do Mosqueiro à praia do Ariramba. Alguns particulares também se
encarregaram de atender a demanda que continuava aumentando com velhas
camionetas e caminhões transformados em “paus-de-arara”. Com a chegada do navio
Presidente Vargas, Raimundo Assunção Cruz, mais conhecido como Cecy, comprou
três camionetas Ford 350, durante anos atendeu a muitos passageiros. Mais tarde
Cecy monta o primeiro Posto de combustível na Ilha.
Depois de seis décadas, usufruindo o transporte fluvial
para atender moradores e visitante, a ilha do Mosqueiro presencia uma
verdadeira revolução. Primeiramente foi a construção da estrada de rodagem,
cuja travessia do “Furo das Marinhas” era feita através do sistema de Balsas e,
depois, pela construção da ponte em concreto sobre o mesmo. Desde 1946, um
grupo de abnegados, liderados pelo Engenheiro Augusto Meira Filho, promoveram
estudos e ações a fim de materializar o sonho de ligar Mosqueiro a Belém
através de estrada.
Em 1965, foi concluída a rodovia Belém-Mosqueiro, via
cidade de Benevides e em direção ao furo das Marinhas. Do lado continental a
estrada foi concluída pelo Departamento de estradas de Rodagem do Pará - DER/PA,
sob o comando do engenheiro Oswaldo Aliverte e do lado insular pelo Departamento
Municipal de Estradas de Rodagem - DMER/BL tendo na coordenação dos trabalhos o
engenheiro José Machado. O nome da rodovia homenageia o seu grande
incentivador: Dr. Augusto Meira Filho. O trecho fluvial sobre o furo das
Marinhas era feito pelo sistema Ferry-Boats, onde balsas procediam a travessia
dos veículos. Há registros de que em apenas três anos, mais de 40 mil veículos
passaram pela estrada.
Ao ser inaugurada em 12 de janeiro de 1976, a ponte sobre
o furo das Marinhas ligou definitivamente a ilha ao continente. A ponte é em
concreto, mede 1.457,73 m, e sua denominação - Sebastião R. de Oliveira –
homenageia um dos precursores nos trabalhos da rodovia. O dia de sua
inauguração foi marcado pela primeira e única visita de um Presidente da
República às terras da ilha.
Hoje, Mosqueiro conta com mais de 33 mil moradores e tem
sua economia centrada na oferta de serviços, grande parte decorrente da demanda
provocada pela prática do turismo de segunda residência. Fenômeno recente
mostra um número considerável de pessoas que se mudaram para Mosqueiro na busca
de melhor qualidade de vida. Na condição de Distrito de Belém, conta com uma
Administração Regional que é responsável pela articulação entre as necessidades
do Distrito e as Instituições municipais responsáveis pela condução das
políticas públicas específicas.
Grandes são os desafios a serem enfrentados. O maior
deles é ajustar a economia local e a prestação de serviços públicos à
sazonalidade de demanda provocada pelos períodos de férias e finais de semana
prolongados quando o número de visitantes chega alcançar 400.000 pessoas. A explosão
demográfica da Região Metropolitana de Belém provocou uma pressão pelos espaços
disponíveis no arquipélago. Os impactos ambientais, desprezados no passado,
passaram a se constituir uma preocupação recorrente para os gestores públicos
e, principalmente, para quem elegeu este lugar para morar ou passar os períodos
de descanso.
Em concurso promovido por órgão de imprensa do Pará, Mosqueiro
foi um dos mais votados na condição de uma das Sete Maravilhas do Estado do
Pará. Ocupa um lugar muito especial no coração e nas mentes de muitos paraenses,
assim como continua encantando brasileiros e estrangeiros que têm a
oportunidade de visita-lo. Você que ainda não conhece, não perca tempo, procure
conhecer. Mosqueiro é um lugar que encanta o ano inteiro.
Bacana poder relembrar sabendo disso tudo
ResponderExcluirFico feliz por isso.
ExcluirAdorei, sou fã do Mosqueiro por suas peculiaridades bem paraenses! O poder Público, deveria dar a Ilha e seus filhos o valor grandioso que merecem!
ResponderExcluirQue os "encantados" por Mosqueiro digam amém.
ExcluirAdoro o Mosqueiro. Meu irmão Manoel tambem. Tempos bons. Meu pai comprou nossa casa no Ariramba em 1950. Mais antes ja iam para lá, ainda temos a casa à 65 anos.
ResponderExcluirSou fã do mosqueiro. Meu pai comprou a casa em 1950. Meu irmão Manoel curte muito também.
ResponderExcluirTenho vontade de passar o resto da minha vida no mosqueiro, já que sou aposentado, mas meus sobrinhos foram assaltados na nossa casa no ariramba em plena luz do dia e ficamos cabreiros; Como está a segurança por lá hoje em dia ?????
ResponderExcluirBarral, lamentavelmente Mosqueiro atravessa a pior administração dos últimos 50 anos, portanto as coisas não estão boas. Agora, a violência não é exclusividade da Ilha, está presente na sociedade brasileira.
ExcluirParabéns pela sua maravilhosa página! Mosqueiro é um lugar fascinante. Criei uma página que se concentra em seus bondes. Lamento que o texto seja quase inteiramente em inglês:
ResponderExcluirhttp://www.tramz.com/br/mq/mq.html
Allen Morrison
New York
almo@tramz.com
Obrigado Allen pelo incentivo. Vou acessar sua página.
ResponderExcluirAllen, adorei seu artigo. Suas contribuições para a história de Mosqueiro são maravilhosas. Recomendo a todos os leitores do Blog Mosqueiro Pará Brasil.
ResponderExcluirprofessor, sou discente de história da ufpa. Estou fazendo meu projeto de pesquisa sobre mosqueiro (onde resido) mas pouca coisa encontro sobre. Queria lhe fazer umas perguntas sobre as referencias das fontes.
ResponderExcluirO senhor poderia me mandar seu e-mail?
Professor, estou fazendo meu projeto de pesquisa sobre mosqueiro. Voce poderia me mandar seu e-mail? gostaria de fazer algumas perguntas.
ResponderExcluirPorque as casas em mosqueiro tem um preço tão popular?
ResponderExcluirDESDE MINHA INFÂNCIA FREQUENTO A ILHA DE MOSQUEIRO E AMO ESSA ILHA PORÉM DEVERIA SER
ResponderExcluirMAIS VALORIZADA PELO PODER PÚBLICO!!
Frequento o Mosqueiro desde a época que o navio Almirante Alexandrino fazia linha era muito bom para irmos a praia do chapéu virado só de bicicleta,a pé ou de caminhão pau de arara,era tão bom não tinha assalto,não tinha roubo de casas ficávamos até meia noite na praça que era quando apagava as luzes então íamos para casa sem medo de ser roubado ou seja era melhor do que hoje que é só desfile de carros e roupas diversificação de bandidos bem vestidos.
ResponderExcluirO Pará não sabe o que fazer com mosqueiro..uma verdadeira joia..
ResponderExcluirTenho um terreno aí há muito tempo.. tenho escritura e tudo.as vezes pendo em construir ou vender....sei lá,fico na dúvida.
ResponderExcluir