O mês de dezembro é de festa em Mosqueiro. É neste
período que a comunidade católica realiza as festividades em homenagem à sua
padroeira, Nossa Senhora do Ó. No segundo sábado do mês, barcos tradicionais da
região em romaria, cortando furos e igarapés, trazem a imagem de Nossa Senhora
do Ó da comunidade do Caruaru até o “Porto Pelé”, em seguida, ela é levada á
Igreja Matriz. Na noite do sábado, os romeiros carregando suas velas acesas
conduzem a imagem para a capela do Sagrado Coração de Jesus, na praia do Chapéu
Virado. No dia seguinte, milhares de fiéis acompanham o Círio, a grande
romaria.
Alguns historiadores consideram o culto à Senhora do Ó o
mais antigo entre os povos de língua latina. Bem antes de ser instituído o dia
25 de dezembro como dia do nascimento de Jesus Cristo a Santa da Expectação já
era cultuada pelos visigodos. Povos da antiga Germânia, em dias muito frios, comemoravam
a festa da expectação no último mês do ano. A festa durava sete dias onde era
grande o consumo de bebidas e comidas. Quando Eurico invadiu a Península
Ibérica, no ano de 455 d.C., com suas hordas conquistadoras, levou consigo o
culto à Senhora da Expectação. Nesta época o Império Romano já não existia.
Com a junção das festas pagãs do século IV o Natal foi
instituído e a festa de Nossa Senhora da Expectação começou a ser comemorada
nos sete dias que antecedem 25 de dezembro. Foi o Concílio de Toledo que deu
formas definitivas à Festa da Expectação e criou a imagem de uma mulher
gestante, dando-lhe o nome de Virgem da Esperança, isto no ano de 656 d.C.
Em seu livro, À Margem da Visita Pastoral, Dom Antônio de
Almeida Lustosa esclarece que a expressão Nossa Senhora do Ó “...explica-se pelas magníficas antífonas
que se cantam no ofício divino dos dias que precedem o Natal. Todas essas
antífonas começam pela exclamação Ó” (“ó sabedoria”; “ó adonai, guia da
casa de Israel”; “ó raiz de Jessé”; “ó estandarte levantado”; “ó chave de
Davi”; “ó sol nascente justiceiro” etc.). Essas expressões, cantadas nos
claustros sombrios dos mosteiros e nas catedrais, levaram o povo a denominar
Nossa Senhora da Expectação, a Virgem da Esperança, de Nossa Senhora do Ó.
Em Portugal o culto de Nossa Senhora do Ó foi muito
difundido e com o passar dos anos foi merecendo destaque. Seu santuário é em
Torres Novas e um dos mais significativos, além do de Belmonte e o da Freguesia
de Malhadas.
No Rio de Janeiro, em 1570, foi construída uma pequena
capela toda talhada em homenagem a Nossa Senhora da Expectação e do Parto, a Nossa
Senhora do Ó. Em 1590, os frades carmelitas receberam como doação o pequeno
templo, que tempos depois desabou. Em 1761, começou a construção da atual
igreja. A ornamentação do altar principal foi feita por Inácio Ferreira Pinto.
Durante seus longos anos de existência, a igreja foi palco de acontecimentos
marcantes da história brasileira. As coroações de dom Pedro I e dom Pedro II
foram realizadas em seu altar principal, bem como o casamento de dom Pedro I
com dona Leopoldina e o batizado da princesa Isabel.
A capitania de Pernambuco também acolheu o culto a Nossa
Senhora do Ó. Situado a cerca de 1.500 metros do Forte de Pau Amarelo, no
município de Paulista, vizinho de Olinda, encontramos o Conjunto Arquitetônico
de Nossa Senhora do Ó. Ainda em Pernambuco, frei Agostinho cita igrejas
consagradas em homenagem à Virgem do Ó na Ilha de Itamaracá e em Mopubú, além
da igreja de Ipojuca, em Goiania. Em São Paulo, frei Agostinho faz a seguinte
citação: "Duas léguas distante da
cidade de São Paulo há uma aldeia de índios nas ribeiras do rio Tietê. Nesta
aldeia se vê o santuário da Senhora do Ó ou da Esperança de seu felicíssimo
parto...” Nascia a Freguesia do Ó. Em Minas Gerais, na cidade de Sabará,
localizada no antigo Arraial de Tapanhuacanga, foi fundada pelo paulista
Bartolomeu Bueno da Silva e seus parentes, a Igreja do Ó que é uma das mais
importantes construções religiosas da região.
Após a fundação de Belém, missionários vieram para a
região com o objetivo de catequizar os nativos e aproveitar esta mão de obra em
suas Missões. Padre Altamirando, antigo pároco de Mosqueiro, declarou para um
jornal local que acredita ser possível que tenha sido um destes missionários o
responsável pela difusão do culto e a constituição da Irmandade de Nossa
Senhora do Ó na Ilha. Sancionada em 10 de outubro de 1868, a lei nº 563 da
Assembléia Provincial estabeleceu - “Fica
criada na povoação de Mosqueiro uma freguesia sob a invocação de Nossa Senhora
do Ó...”. A igreja que havia na povoação e pertencia à Irmandade de Nossa
Senhora do Ó, foi indicada para matriz provisória e mandada avaliar para a
devida indenização à irmandade, promovendo-se a sua conclusão pelo governo da
Província.
A ausência de registros no livro de Tombo da paróquia
cria a dificuldade para afirmarmos quando e como foi o primeiro Círio de Nossa
Senhora do Ó. Relatos de moradores mais antigos dão conta que, na década de 20,
a imagem da Santa era conduzida no Sábado até o Sítio dos Irmãos Maristas,
localizada na praia do Bispo para, no dia seguinte, retornar a Igreja Matriz.
Em 1950, o trajeto do Círio foi ampliado até a capela do Sagrado Coração de
Jesus, no Chapéu Virado.
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